A predestinação pregada em Romanos 9 – Parte 1


A doutrina da predestinação caiu em tempos difíceis. Não que já tenha sido popular. Dado o clima teológico atual, a maioria dos Cristãos provavelmente pensam que predestinação – na extensão em que pensam sobre isso – é uma noção filosófica e abstrata inventada por uns poucos excêntricos do passado. Na realidade, entretanto, a maior parte dos famosos adeptos da doutrina bíblica da predestinação, além de não serem excêntricos, defenderam essa crença por estarem convencidos de que a Bíblia claramente ensina isso.

E, apesar de haver muitos lugares onde a predestinação é explicitamente ou implicitamente ensinada, ela é mais claramente e definitivamente ensinada no capítulo nove na epístola Paulo aos Romanos. Há outros lugares que poderíamos examinar o Novo Testamento onde as ações humanas relacionadas a eventos redentivos foram predestinados por Deus de forma tão maravilhosa que a responsável liberdade humana foi preservada (Atos 2:23; 4:28; e 1 Coríntios 2:7). Devemos notar, contudo, que esses são eventos, não pessoas. Paulo repetidamente diz que os próprios crentes são crentes apenas porque eles foram predestinados a essa graça como um presente dado por Deus (Romanos 8:29–30; Efésios 1:5; 11). Isso se segue desde que somos expressamente ensinados que tanto a fé como o arrependimento se originam em Deus, não de nós mesmos (Efésios 2:8–9; Filipenses 1:29; 2 Tessalonicenses 2:11; 2 Timóteo 2:25; cf. Hebreus 12:17).

Mas Romanos 9 trouxe mais que apenas um leitor aos seus joelhos diante de nosso maravilhoso Deus que “segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra” (Daniel 4:35). Essa passagem ensina a divina eleição e predestinação de indivíduos para a salvação, e o endurecimento de quem Deus quer como candidamente qualquer coisa é ensinada na Bíblia, apesar dos esforços resolutos e persistentes de muitos em neutralizar isso.

Felizmente leitores persistentes dessas sublimes seções das Escrituras trouxeram muitas pessoas a finalmente aceitar seus ensinamentos. Permita um exemplo impressionante ilustrar. Depois de citar Romanos 9:11–13, um teólogo proeminente escreveu isto no início de sua carreira:

Isso move as pessoas a pensarem que o apóstolo Paulo aboliu com a liberdade da vontade, pela qual ganhamos a estima de Deus pela boa piedade, ou o ofendemos pela terrível impiedade.  Visto que, essas pessoas dizem, Deus ter amado a um e odiado ao outro antes mesmo que tivessem nascido nem pudessem ter feito bem ou mal. Mas respondemos que Deus fez isso por sua presciência, pela qual ele conhece o caráter até dos que não nasceram… Portanto Deus não elegeu qualquer um por suas obras ( ao qual o próprio Deus recompensará) pela presciência, mas ao invés disso pela presciência ele escolhe a fé, então ele escolhe precisamente aquele que ele anteviu que creria nele; e a este ele concede o Espírito Santo, para que então fazendo boas obras ele assim alcançará a vida eterna.

Essa posição é a mesma de Pelagius, o grande oponente da predestinação. E ainda, o mesmo autor apenas citou ao reexaminar Romanos alguns anos mais tarde ao ser requisitado por um amigo e totalmente contrário em abraçar o ensino de Paulo sobre a predestinação. Ele argumenta contra sua posição inicial, quando ele diz:

Se a eleição é pela presciência, e Deus anteviu a fé de Jacó, como você prova que ele não o elegeu por suas obras? Nem Jacó ou Esaú acreditaram, porque eles não eram nascidos nem fizeram nem o bem nem o mal. Mas Deus anteviu que Jacó creria? Ele poderia igualmente ter antevisto que ele faria boas obras. Então assim como alguém diz que ele foi eleito porque Deus sabia de antemão que ele viria a crer outro poderia dizer que isso foi por causa das boas obras que ele estava para realizar, desde que Deus também os conhecia de antemão… Se a razão para isso não ser pelas obras foi que eles não eram nascidos, isso também implica fé; pois antes deles terem nascidos eles não tinham nem fé nem obras. O apóstolo, portanto, não quer que entendamos que isso foi por causa da presciência de Deus que o jovem foi eleito para ser servido pelo mais velho.

Subsequentemente, esse autor sustentou firmemente a predestinação para o resto de seus longos dias e de sua distinta carreira. De fato, muitas pessoas o consideram um dos maiores teólogos na história da Cristandade: Agostinho de Hipona.

A breve digressão sobre a história da interpretação ilustra apenas um ponto. Eu te pergunto, leitor, a considerar Romanos 9, assim como fez Agostinho – não importando como você a entende no passado – e a seguir cuidadosamente a linha de pensamento do Apóstolo Paulo. Você descobrirá que esse é um dos mais impressionantes capítulos das Escrituras. Olharemos especificamente Romanos 9:1–29 nesse breve exame e referir a essa seção apenas como “Romanos 9.”

O Contexto

Os capítulos 9–11 são normalmente vistos como uma unidade distinta em Romanos. Algumas pessoas pensam que essa seção é um apêndice desconexo do resto da epístola. Mas uma reflexão cuidadosa nos mostra que Romanos 9–11 respondem algumas perguntas chaves que Paulo levantou anteriormente, especialmente em Romanos 3 sobre a fidelidade de Deus em Sua promessa aos Judeus. Isso vem à tona quando notamos que Romanos 9:6 é realmente a questão chave e a resposta Paulo desenvolve através de Romanos 9–11: “E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas.”

A questão implícita em Romanos 9:6a é: “Deus quebrou a promessa a Israel?” O argumento de Paulo em Romanos  até o capítulo 9 pode ter parecido levar a essa conclusão. Israel era a semente de Abraão e herdeiros das promessas de Deus na aliança da graça (Gênesis 15; Êxodo 2:23–25; Salmos 105: 8–10; Lucas 1:72 – 73; etc). Ainda sim os Israelitas estão sob julgamento, e a sua circuncisão e possessão da Lei não são de qualquer valor se afinal eles são contados como transgressores (Romanos 2:17–29);e todos universalmente, tanto Judeus como Gentios, estão debaixo do cruel e implacável domínio do pecado (Romanos 3:9–18; Romanos 5:18–20). Anulou Deus, então, completamente Sua aliança com Israel? Irá Deus, então erradicá-los (Romanos 11:1)? A resposta de Paulo a essas urgentes perguntas são o que Romanos 9–11 explica. E sua resposta nos leva a fundo no propósito de Deus.

Romanos 9

A estrutura de Romanos 9:1–29 é bastante simples. As seções principais são: 1) A tristeza de Paulo pela nação de Israel (vv. 1–5); 2) Tese e assunto principal: graça salvadora depende da predestinação (vv. 6–13); 3) Resposta a objeção de que a predestinação torna Deus injusto (vv. 14–18); e 4) Resposta a objeção de que a predestinação remove a responsabilidade humana (vv. 19–29). Esse esboço conta para os contornos principais da passagem, mas sua glória se encontra nos detalhes.

Paulo começa em Romanos 9:1–3 titulando uma possível percepção errada de sua rigorosa defesa da inclusão dos gentios na completa cidadania da aliança pela fé somente (cf. Efésios 2:12). Especificamente, ele veementemente nega que sua teologia é dirigida pelo ódio aos seus compatriotas (mesmo que ele esperasse uma imanente aflição vindo deles [Romanos 15:31]). Paulo nega qualquer anti-semitismo de sua parte ao afirmar vigorosamente sua própria tristeza por eles (9:2), seu testemunho em seu nome pelo zelo religioso (10:2), e sua advertência de que os gentios não devem desprezar os ramos a que foi enxertado (11:18, 20). A essas coisas o apóstolo dá o mais solene testemunho, selado em seu próprio destino eterno (9:1, 3). Devemos recolher a partir dessa grave afirmação que as questões em Romanos 9 são pesadas.

Paulo não reconhece o valor da cidadania Israelita fora do mero sentimento. Ele está admitindo o status privilegiado de Israel no programa redentivo de Deus: “A salvação vem dos Judeus” (João 4:22). A Israel foi confiado os oráculos de Deus; a ela pertence a adoção, a glória, as alianças, a Lei, o culto, e as promessas (3:2, 9:4). Israel não apenas tem os patriarcas, mas em um ato de condescendência, o Filho de Deus encarnado dignou-se ser nascido como filho de Abraão (9:5), não como o filho de qualquer outra tribo. Assim, através da extensa eternidade Abraão será conhecido como o pai de todos os filhos e filhas de Deus (Romanos 4:11; Gálatas 3:29). Jesus por sua encarnação como a grande Semente de Abraão e como a Raiz e o Ramo de Jessé santificou aquela santa descendência Israelita (Romanos 11:16, 15:12; cf. Gálatas 3:16; Apocalipse 5:5; Hebreus 10:29).

Fonte: Monergism via Ame Cristo

Tradução: Eric Lima

Título Original:  O Propósito de Deus Segundo a Eleição: Argumento de Paulo em Romanos 9 (Parte 1) — Steven M. Baugh

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